terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A política da mediocridade

A cinco dias de decidir quem irá passear pelos jardins de Belém nos próximos cinco anos, confesso que nunca me senti tão desmotivado para votar. Desde que fiz os 18 anos que sempre votei, fossem eleições ou referendos. E votarei sempre, seja no partido A, no B ou em branco, marcarei sempre presença para colocar uma cruz (ou não) num dos quadrados. E é isso que farei no próximo domingo. Mas, pela primeira vez, irei às urnas sem saber em que votar.
Há cinco anos, encontrava-me numa posição semelhante. Nenhum dos candidatos me agradava e até defendi um nome que, poucos meses antes, tinha aceite a pasta dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo Sócrates. Falo, obviamente, de Freitas do Amaral. Cinco anos volvidos, não vejo ninguém capaz para o cargo. Temos uma classe política medíocre e isso vê-se nos mais altos cargos da Nação, onde a "má moeda" se impôs à "boa moeda", nas palavras do actual inquilino de Belém.
Dos candidatos, nenhum se apresenta com um mínimo de capacidade para exercer o cargo com a competência exigida. Basta ouvi-los para percebermos o vazio de ideias e, sobretudo, da falta de noção do que representa a Presidência e os reais poderes do mais alto magistrado da Nação. Alguns nem sabem falar correctamente português! Aliás, se de um lado temos o presidente-recandidato, com todos os defeitos que se lhe conhecem, do outro temos "opositores" que, apesar de todos os defeitos do primeiro, não conseguem fazer frente, pelo menos nas sondagens. Com um outro candidato credível, Cavaco Silva já estaria atrás em todas as sondagens, pois bastava um dos defeitos para perder a disputa eleitoral. Bastava, por exemplo, ter permitido, senão lançado, uma mentira para derrubar o governo e ajudar o seu partido (e a sua amiga, na altura líder) a chegar ao poder para que os eleitores punissem tal traição com uma pesada derrota. Ou, por exemplo, os "negócios", fossem os lucros duvidosos com o BPN/SLN ou a vivenda na Aldeia da Coelha, com uma escritura desaparecida algures. Ou, por exemplo, as memórias do tempo enquanto Primeiro-Ministro, quando não existia liberdade de expressão, pois quem se manifestasse de forma contrária ao cânones da maioria no poder levava com a força de intervenção em cima. Ou, por exemplo, as afinidades com a ditadura (a integração no regime). Qualquer um destes casos seria razão bastante para uma derrota no próximo dia 23. A prova de que os restantes candidatos não são melhores é que, apesar de tudo isto, Cavaco continua à frente nas sondagens e, tudo indica, vencerá logo à primeira volta. Justa ou injustamente, é e continuará a ser o presidente que teremos. Como temos Sócrates, apesar de todos os casos que o envolvem, alguns manipulados, mas outros reais. As alternativas não eram melhores. E continuam a não ser, apesar de algum fogo de vista e truques de ilusionismo.
Este país não é para competentes nem para gente séria. É para patos bravos, para gente que só pensa em dinheiro, que sobrevivem graças à passividade colectiva. E é por isso que temos Sócrates e Cavaco. E não vemos ninguém melhor do que eles. Eu, pelo menos, não vejo.

Sem comentários: