"A ministra da Justiça disse, em entrevista à SIC, entre outras
falsidades, que nunca ninguém ouvira o bastonário da Ordem dos Advogados a
exigir ao anterior Governo o pagamento da dívida dos honorários aos advogados
que prestam apoio judiciário. Afirmou mesmo que o bastonário «esteve calado
durante estes seis anos». Tudo isso numa estação de televisão que tem nos seus
arquivos dezenas de gravações de intervenções minhas contra os dois governos de
José Sócrates devido aos atrasos naqueles pagamentos. Tudo isso numa estação que
transmitiu em direto os meus discursos no Supremo Tribunal de Justiça nas
cerimónias de abertura do ano judicial, numa das quais até discursei sem o colar
de bastonário em protesto contra esses atrasos. Tudo isso numa estação de
televisão que cobriu algumas das dezenas de conferências que eu fizera pelo país
e gravou várias declarações minhas em que chamava caloteiros aos governos do PS
por não pagarem atempadamente o que deviam. Há, de facto, políticos para quem a
mentira e os truques ardilosos da baixa política são as suas principais armas e
que, por isso, perderam todo o sentido da dignidade. Vejamos.
Quando, em 8 de janeiro de 2008, tomei posse como bastonário, os honorários
previstos para o apoio judiciário eram inferiores a seis euros por mês, por
processo e o sistema de acesso ao direito continuava a ser escandalosamente
usado para a OA dar formação e para subsidiar os advogados estagiários. Logo aí
me insurgi veementemente contra essa situação e voltei a fazê-lo no discurso
proferido na sessão de abertura do ano judicial desse ano. O Governo de então
arrepiou caminho e foi possível, em colaboração reciprocamente leal, desenhar um
novo modelo de acesso ao direito que privilegiasse os cidadãos economicamente
carenciados.
Pela parte da OA, impedimos que os advogados estagiários pudessem continuar a
defender, sem a presença dos seus patronos, os direitos e a liberdade das
pessoas pobres e que as nomeações de advogados fossem feitas por magistrados,
por polícias e por funcionários judiciais. Só a OA o poderia fazer - e passou a
fazê-lo de forma aleatória (automaticamente), pondo-se, assim, cobro a toda uma
teia de favoritismos e cambões instalada no seu interior. O novo modelo pôs em
causa muitos interesses instalados dentro e fora da OA, em particular daqueles
setores a que a atual ministra da Justiça sempre esteve ligada como advogada.
Uns (quase sempre os mesmos) ganhavam dinheiro com o patrocínio oficioso e
outros (pertencentes à nomenclatura da Ordem) aumentavam o seu poder com as
nomeações.
Tudo isso acabou. O novo sistema, não sendo perfeito, era, contudo, muito
mais transparente e, sobretudo, garantia aos cidadãos mais carenciados um acesso
efetivo ao direito e aos tribunais. Havia apenas dois problemas: os atrasos nos
pagamentos dos honorários e as (pequenas) fraudes de alguns (muito poucos)
advogados, as quais, na esmagadora maioria, eram de duas ou três dezenas de
euros. Contam-se pelos dedos das mãos as que ascendiam a centenas de euros.
Quando o atual Governo tomou posse, logo manifestei a disposição da OA para
colaborar com o MJ a fim de detetar esses casos e punir exemplarmente os seus
autores. Mas a ministra não queria isso. Ela queria destruir este modelo e criar
um novo que funcionalizasse os advogados ou então que os avençasse, ficando o
Governo e os partidos que o sustentam com o poder de escolher os avençados. Mas
como o sistema funcionava bem, tentou-se fazer o que é hábito nestas situações:
degradar um bom serviço público para depois o privatizar. O MJ aumentou e muito
os atrasos nos pagamentos aos advogados e lançou uma gigantesca campanha de
descrédito do sistema de acesso ao direito e de enxovalho dos mais de 9500
advogados que nele prestam serviço.
O resto é conhecido. Foram notícias falsas, declarações públicas
tendenciosas, conferências de Imprensa sensacionalistas e agora são as mentiras
mais descaradas para falsificar o que se passou, procurando apagar alguns dos
factos que não interessam aos atuais epígonos triunfantes. O povo dar-lhes-á a
resposta que merecem."
(Marinho Pinto, in JN, a mostrar como esta ministra é mentirosa)
2 comentários:
Eu penso que a sra. ministra é assim um bocado como o primeiro ministro: Quando fala verdade cai-lhe um braço. Ao que parece, ainda não está maneta, logo....
S. Bagonha, esta ministra, tal como o patrão dela, já não teria braços há muito, casso caíssem em cada mentira...
Cumprimentos.
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