Daqui a pouco mais de 3 horas termina a campanha. Entramos no chamado "período de reflexão". Finalmente!
A mim não faz muito sentido, mas admito que muita gente, massacrada pelos tempos de antena (que não passam de anúncios publicitários) e cansada de ver mãozinhas a impingirem-lhes panfletos, necessite de umas horas para deixar assentar o pó e para, através de uma análise mais fria e isenta da emoção da campanha, reflectir sobre o sentido de voto, ou mesmo sobre se deve ir votar.
A mim não faz muito sentido, mas admito que muita gente, massacrada pelos tempos de antena (que não passam de anúncios publicitários) e cansada de ver mãozinhas a impingirem-lhes panfletos, necessite de umas horas para deixar assentar o pó e para, através de uma análise mais fria e isenta da emoção da campanha, reflectir sobre o sentido de voto, ou mesmo sobre se deve ir votar.
Viu-se de tudo nesta campanha. O objectivo é claro: mais do que vencer, é derrotar a parte contrária, mostrar que são melhores e moralmente superiores. É impingir a sua "doutrina" aos outros. Aliás, eu não esperava outra coisa desta campanha...
Chegados a este momento, é altura de apelar ao voto. Seja ele qual for. E é altura de lembrar que o voto em branco também é um voto. Se estamos indecisos, em vez de não votarmos devemos votar em branco. O voto é um dever cívico que, não usado, fragiliza a democracia e a vontade popular.
Eu vou votar a favor da discriminalização da IVG nas condições propostas na lei que vai a referendo. Vou votar a favor pelas muitas razões que aqui fui expondo.
Mas, acima de tudo, vou votar para que tenhamos uma lei semelhante à que vigora na maioria esmagadora dos países europeus e desenvolvidos, em vez da actual lei que é semelhante à de países como o Irão ou a Arábia Saudita, apesar de alguns afirmarem que estes é que são pioneiros nesta matéria (que mentalidade!)
Segunda-feira é dia de ressaca e cá estarei para fazer um balanço, sejamos já um país ao nível dos países mais desenvolvidos do Mundo, ou continuemos a ser um país atrasado nesta matéria, como em muitas outras...
2 comentários:
Carlos Abreu Amorim, no "Blasfémias":
"Nesta campanha, nos vários debates em que estive, o "Não" repetiu sempre um argumento notável: deve ser negada a possibilidade de escolha das mulheres em fazer a IVG para dar lugar ao planeamento familiar e a políticas públicas de esclarecimento e aconselhamento familiar e sexual (como se ambas as coisas fossem incompatíveis em algum lugar com que nos gostamos de comparar…).
E, normalmente, quase todos os circunstantes abanavam gravemente a cabeça, concordando.
E eu, sorrindo, recordava a batalha enorme que o Dr. Albino Aroso teve de travar há alguns anos para realizar em Portugal alguma coisa que se assemelhasse a "planeamento familiar".
«Pílulas?», diziam. Dar «preservativos à toa?», assustavam-se. E a «moral?», perguntavam. Isso vai destruir a «família», avisavam. «Educação sexual?», indignavam-se. Isso seria ensinar os nossos filhos a saberem «o que não devem fazer», sentenciavam.
E, agora, os mesmos, precisamente os mesmos, aqueles que andaram durante décadas a rugir contra os métodos contraceptivos e a educação sexual, chegam a este momento eleitoral ancorando quase toda a argumentação pública do "Não" naquilo que condenaram durante todo o tempo anterior. Agitam todo o acervo de razões que estigmatizam desde há décadas e que boicotaram sempre que lhes foi possível - «Ter um filho é um acto moral. Engravidar não pode ser um mero acidente», garantem alguns cheios de verdade na sua mão direita.
Mas, enfim, a coerência e a realidade nunca foram óbice para os que se julgam os únicos defensores dos valores e dos princípios à face da terra e dos céus..."
Nuno Ramos de Almeida, no "5 Dias":
"Nesta campanha é possível tirar duas conclusões, independentemente do resultado:
1. Vai continuar a haver sexo, apesar do “não” pretender substituir a contracepção pecadora pela a abstinência sexual.
2. A subida ao pico dos justos é mais trabalhosa do que parece. Sem menorizar os esforços da fadista e médica Katia Guerreiro, vai ser difícil conquistar o lugar da vanguarda para dar o exemplo aos países ímpios da Europa . Infelizmente, esse lugar já está ocupado pela a Arábia Saudita. E apesar do voluntarismo da Katia Guerreiro, é preciso muito esforço para , em poucos anos, conseguirmos tirar a carta de condução às mulheres, obrigá-las a estar às ordens dos maridos, subjugá-las a preconceitos fundamentalistas, proibir o aborto e, claro, apedrejar as adúlteras."
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