Em Fevereiro de 2005 nasceu o Proc. nº 77/05.2JASTB. Foi na Comarca do Montijo, mas passado um ano viajou para o DCIAP, em Lisboa, onde Cândida Almeida o aguardava.
Mais tarde, ficou a saber-se como nasceu e quem o deu à luz. Marinho Pinto, na
revista da Ordem dos Advogados, conta a estória toda, onde fica demonstrado o caminho sinuoso e vergonhoso desde uma vivenda na Aroeira até à queixa formal, nuam carta supostamente anónima, elaborada por um adversário político do principal visado na queixa, José Sócrates, e após reunião (na tal vivenda) com o chefe de gabinete do Primeiro-Ministro em funções (e o principal adversário de Sócrates, para quem perdeu o cargo), dois jornalistas amigos e uma inspectora da Polícia Judiciária de Setúbal.
A "bomba" explodiu no jornal Independente (um dos jornalistas esteve na tal reunião da Aroeira) e deflagrou em duas primeiras páginas seguidas, imediamente antes das eleições legislativas que deram a maioria absoluta ao principla visado na queixa "anónima". Apurados os resultados oficiais, o processo adormeceu por largo período, tendo acabado por acordar da hibernação - que estrondosa coincidência! - em vésperas de novas eleições legislativas, às quais concorreu novamente o principal visado da denúncia.
Pelo meio, notícias e mais notícias, boatos, suspeições, pressentimentos, opiniões, presunções, deduções, mas provas nada. O objectivo da denúncia tornou-se claro aos olhos dos portugueses: queimar Sócrates. Pacheco Pereira, Ferreira Leite (com a política de verdade), Santana Lopes, Moura Guedes, Moniz, José António Saraiva, José Manuel Fernandes, ao longo de anos destilaram ódio e mostraram o que os movia. Em Julho de 2010, o Inquérito chega, finalmente, ao fim, com acusação a dois arguidos, ficando Sócrates ilibado de qualquer acusação. Centenas de fugas de informação e de crimes de violação de segredo de justiça depois, o Diabo em pessoa (aos olhos dos nomes em cima referidos) safava-se. Isto não se faz!...
A verdade é que, ao longo destes anos, os órgãos de comunicação social que não gostavam de Sócrates
tomaram partido, foram parciais, violaram as mais elementares regras deontológicas e
éticas, desrespeitaram pessoas (os familiares, como a Mãe, foram metidos ao barulho), escavaram meio Mundo à procura de algo incriminatório, mas nada. Nada de nada. Que frustração devem sentir essas pessoas.
No fundo, Sócrates até pode ter cometido alguma ilegalidade. Não sabemos e dificilmente alguma vez saberemos. A investigação nasceu torta e, como diz o povo, o que nasce torto dificilmente se endireita. Fabricaram um processo-crime com fins políticos e pessoais, o que, desde logo, amputou a investigação de um elemento essencial para a descoberta da verdade: cabeça limpa, sem preconceitos, e espírito crítico na análise dos factos. Como o objectivo não era descobrir a verdade mas antes queimar um adversário político, a investigação ficou coxa à nascença e coxa morreu ontem. Foi, parafraseando o Público, um dia difícil para os detractores.
De tudo isto, quase ninguém sai incólume. Sobretudo a comunicação social que, ao longo de anos, cavalgou a onda mediática, a febre judicialista e colaborou activamente no extremar de posições (quem defendia Sócrates era visto como a encarnação do demo) e na propagação de mentiras e boatos, favorecendo claramente uma das posições em detrimento da outra. E não vale a pena tentarem sacudir a água do capote, como já quase todos tentaram, pois os portugueses não são parvos e perceberam o papel dos media nesta estória. Não é por acaso que as vendas de jornais diminuíram, nomeadamente do Público, do Sol e do Independente, e da perda de audiências, sobretudo da TVI. Podem pensar que é coincidência (como as notícias só aparecerem nas vésperas de eleições), mas não é.
Para resumir tudo isto numa palavra (que até ilustra bem como funciona este país), terei de escolher esta: tristeza.
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Adenda: ler o Daniel Oliveira, no post "O atalho".