terça-feira, 26 de dezembro de 2006

James Brown

Normalmente associamos o Natal a prendas, mas este ano tive uma grande perda: James Brown, o "Pai do soul", não resistiu a uma pneumonia, acabando por falecer aos 73 anos de idade. Caso para dizer: I feel... bad.

2 comentários:

Ricardo Sardo disse...

Pode ler-se no Jornal Público:

"Mr. Dinamite" morreu
(por José J. Mateus)

Muitos tratavam-no como o "padrinho da [música] soul", mas James Brown era muito mais do que isso. Os seus ritmos revolucionários e a sua voz fizeram dele, de certa maneira, o fundador do rap, funk e da música disco.

Em 1989, o cantor norte-americano disse meio a brincar que "a música que se ouve por aí é apenas tão boa como o meu último álbum". James Brown morreu na madrugada de ontem. Tinha 73 anos.

Foi internado no domingo num hospital de Atlanta por causa de uma pneumonia, mas morreria em consequência de uma paragem cardíaca. Nos últimos dias manteve a sua agenda - sexta-feira fez a sua habitual distribuição de prendas em Augusta (no estado da Georgia), e no sábado foi ao dentista. Planeava ainda tocar na noite de passagem de ano no B.B. King Blues Club em Nova Iorque. "Foi dramático até ao fim", disse ontem o reverendo Jesse Jackson. "É um momento poético, quase dramático. Hoje [ontem] ele vai estar nas notícias em todo o mundo. Ele não queria que fosse de outra maneira."

A sua vida foi vivida entre sucesso e dramas. Nasceu no meio da pobreza em 1933 em Barnwell, na Carolina do Sul. A partir dos quatro anos é criado por familiares. Cresceu nas ruas de Augusta, numa "zona de reputação doentia", como lhe chamava.

Com 16 anos já tinha passado três anos e meio num reformatório por tentar assaltar um carro. Aí conhece Bobby Byrd, que o leva para o seu grupo, Gospel Starlighters. Na mesma altura tenta o boxe semiprofissional, mas desiste. Os Gospel Starlighters mudam depois o nome para Famous Flames e o estilo para R & B. Em Janeiro de 1956 assinam com uma editora e quatro meses depois Please, Please, Please, escrita por Brown, está nos tops. Venderam-se um milhão de cópias da canção.

Tratava a banda como um exército, impondo multas a quem se atrasasse, vestisse ou tocasse mal. Nos anos 60, a sua crescente reputação conduziu-o ao Harlem Apollo Theatre, a "Meca" da música negra, onde tocou para multidões. Percebendo que a essência da sua música apenas resultava nos espectáculos ao vivo, financiou a gravação de um álbum naquela sala.

O resultado, James Brown Show Live at the Apollo, alargou a sua reputação pelos Estados Unidos. Ainda é considerado um dos melhores álbuns gravados ao vivo. Seguem-se mais êxitos como Papa Got a Brand New Bag, I Got You (I Feel Good) e Get Up (I Feel Like Being a Sex Machine).


Orgulho racial

Ainda nos anos 60 enriquece. Compra rádios, abre restaurantes de fast food e tem um avião particular. Diz a BBC que realiza o "capitalismo negro" muito antes de a frase ser conhecida. Apesar disso, não esquece quem não tem nada - dá comida aos pobres e dinheiro e terra aos que precisam, especialmente em África. É criticado pelo seu patriotismo e ameaçado de morte depois de actuar para as tropas americanas no Vietname.

A sua influência é tal que, quando Martin Luther King é assassinado em 1968 utiliza o seu espectáculo que andava em digressão pelos EUA para fazer apelos à calma. Ajudou a travar a fúria na comunidade negra e o próprio Presidente americano, Lyndon Johnson, agradece-lhe. Say It Loud-I"m Black and I"m Proud (1968) tornou-se uma bandeira do orgulho racial. "Lembro-me que chamávamos a nós próprios coloridos e, depois da canção, passámos a chamar-nos pretos." Canta na tomada de posse de Nixon em 1969 e a sua popularidade desce entre os jovens negros.

A sua vida muda nos anos 70. O filho Teddy morre num acidente de carro, é afectado por problemas fiscais e a música disco, diz a BBC, quase o destrói. Mas o papel de um pregador que canta no filme de culto The Blues Brothers (1980) leva a sua música a uma geração mais nova. Mais problemas: é várias vezes acusado de abuso de drogas e de álcool e de bater na terceira mulher, Adrienne. Em 1988, após um incidente com uma arma de fogo, é perseguido pela polícia. Condenado a seis anos de prisão, cumpre dois anos e meio. A sua libertação coincide com o momento em que o rap e o hip-hop, os quais vão buscar as suas bases ao trabalho de Brown, são muito populares e o seu papel é reconhecido como nunca tinha sido.

Ao lado de Elvis Presley, Bob Dylan e outros, James Brown é uma das grandes influências musicais dos últimos 50 anos. Os seus rápidos passos de dança, a maneira como representava em palco (era "Mr. Dinamite") inspiraram Mick Jagger ou Michael Jackson. Se os fãs de Ray Charles e Sam Cooke podem contestar-lhe a invenção da soul, era, diz a AP, para o R & B e para a dance music o que Bob Dylan é para as letras das canções: um inovador popular.

O homem que ganhou vários Grammy e gravou mais de 50 álbuns também esteve em Portugal - a última vez foi em 1999, no Casino Estoril.

Chamavam-lhe também O Trabalhador Mais Incansável do Mundo do Espectáculo. Entre concertos e digressões nunca parava. Nem abrandou o ritmo quando suspeitou de cancro na próstata.

Era um provocador: "Disco é James Brown, hip-hop é James Brown, rap é James Brown; vocês sabem o que estou a dizer? Ouvem todos esses rappers e 90 por cento da sua música sou eu."

Ricardo Sardo disse...

Nuno Galopim, no Diário de Notícias:

"Tomava cognomes como poucos: "Mr. Dinamyte", "Padrinho da soul", "o homem mais trabalhador do showbusiness", "Soul brother number one"... Expressões que sublinhavam o entusiasmo e empenhamento de um músico que chegou a actuar 350 noites por ano, de vida pessoal turbulenta, inconstante também a sua relação com o sucesso, os seus dias de maiores glórias vividos entre finais de 50 e meados de 70."

http://dn.sapo.pt/2006/12/26/artes/o_homem_rodopiava_cancoes_alma.html