1. Ainda em relação ao Acórdão da 9ª Secção da Relação de Lisboa, que entendeu não ter havido crime de corrupção por parte do empresário Domingos Névoa, persiste uma dúvida: porque é que o empresário não foi condenado por um outro crime que não a corrupção? É que o próprio Acórdão admite ter sido praticado um outro crime (por exemplo: favorecimento pessoal, suborno, tráfico de influências, etc). Não poderia ter existido uma alteração não substancial dos factos e ter sido alterada a Acusação para um destes tipos de crime?
2. Ontem foi conhecido um outro Acórdão, também da Relação de Lisboa, que confirmou a decisão do Ministério Público em não acusar João Miguel Tavares pelo crime de difamação contra Sócrates. O principal argumento, a acreditar na imprensa, é que o que é dito enquanto opinião não tem de ser verdadeiro e "não está sujeito à regra da prova da verdade dos factos".
Com base neste argumento, façamos então o seguinte exercício: adaptemos o texto de JMT e, em vez de falarmos do PM, falamos, por exemplo, de um Juíz:
"Ver (nome de um Juiz) apelar à moral na Justiça é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina. A intervenção do (nome do Juiz) na abertura do ano judicial do passado fim-de-semana, onde se auto-investiu de grande paladino da "decência na nossa vida democrática", ultrapassa todos os limites da cara de pau. A sua licenciatura manhosa, as decisões duvidosas no Tribunal X, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso judicial não fazem necessariamente do Juiz um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.
(nome do Juiz), no entanto, preferiu a fuga para a frente, lançando-se numa diatribe contra directores de jornais e televisões, com o argumento de que "quem decide é o Juiz porque em democracia os Tribunais é que decidem". Detenhamo-nos um pouco na maravilha deste raciocínio: reparem como nele os planos do exercício do poder judicial e do escrutínio desse exercício são intencionalmente confundidos pelo (nome do Juiz), como se o cargo de Juiz servisse para aferir inocências e a avaliação do Conselho Superior de Magistratura fornecesse uma inabalável imunidade contra todas as suspeitas. É a tese Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro - se o povo vota em mim, que autoridade tem a justiça e a comunicação social para andarem para aí a apontar o dedo? (nome do Juiz) escolheu bem os seus amigos.
(nome do Juiz), no entanto, preferiu a fuga para a frente, lançando-se numa diatribe contra directores de jornais e televisões, com o argumento de que "quem decide é o Juiz porque em democracia os Tribunais é que decidem". Detenhamo-nos um pouco na maravilha deste raciocínio: reparem como nele os planos do exercício do poder judicial e do escrutínio desse exercício são intencionalmente confundidos pelo (nome do Juiz), como se o cargo de Juiz servisse para aferir inocências e a avaliação do Conselho Superior de Magistratura fornecesse uma inabalável imunidade contra todas as suspeitas. É a tese Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro - se o povo vota em mim, que autoridade tem a justiça e a comunicação social para andarem para aí a apontar o dedo? (nome do Juiz) escolheu bem os seus amigos.
Partindo invariavelmente da premissa de que todas as notícias negativas que são escritas sobre a sua excelentíssima pessoa não passam de uma campanha negra - feitas as contas, já vamos em quatro: licenciatura, decisões judiciais, apartamento e o caso do arguido (nome), (nome do Juiz) foi mais longe: "Não podemos consentir que a democracia se torne o terreno propício para as campanhas negras." Reparem bem: não podemos "consentir". O que pretende então ele fazer para corrigir esse terrível defeito da nossa democracia? Pôr a justiça sob a sua nobre protecção? Acomodar o procurador-geral da República nos aposentos de gabinete do Juiz?
À medida que se sente mais e mais acossado, (nome do Juiz) está a ultrapassar todos os limites. Numa coisa estamos de acordo: ele tem vergonha da justiça portuguesa por ser "terreno propício para as campanhas negras"; eu tenho vergonha da justiça portuguesa por ter à frente dos seus destinos um homem sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático. Como jurista e como Juiz, não faltarão qualidades a (nome do Juiz). Como democrata, percebe-se agora porque gosta tanto de Hugo Chávez."
Quase que apostava que nenhum Juiz neste país mandaria arquivar o processo, alegando que não houve difamação. Mas isto sou eu, que não sou bruxo nem faço apostas...
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