segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Alzheimer colectiva

Há dias soube-se que Cavaco Silva estava "integrado" no regime salazarista, o que só espanta os mais distraídos. Nunca gostou de usar cravo na lapela, sempre ficou mal-disposto no 25 de Abril, enquanto Primeiro-Ministro dava ordens para que em todas as manifestações, por muito pacíficas que fossem, as forças de intervenção investissem sobre os manifestantes, demonstrando uma enorme intolerância pela opinião contrária e alergia à liberdade de expressão. Isto para além de ter governado a favor dos amigos, que os biliões de euros em subsídios europeus ajudaram e em prejuízo dos mais carenciados. Não estranha que venha agora, com lágrimas de crocodilos e em vésperas de eleições, falar em pobreza, quando dados oficiais mostram que foi no seu tempo de PM que mais aumentou o número de pobres em Portugal.
A sua falta de categoria enquanto político era tão gritante que, um ano depois do seu pupilo Fernando Nogueira ser enxovalhado nas urnas por Guterres, ainda tentou ganhar a Presidência. Os portugueses, ainda revoltados com a sua actuação no Governo, mostraram-lhe um manguito e votaram em Sampaio. Conhecidos os resultados, os microfones das tv's e rádios transmitiam as palavras de portugueses que comemoravam os resultados: "Em quem votou?" atirava o jornalista, "Contra o Cavaco" devolvia o cidadão anónimo.

Volvidos dez anos, Cavaco voltou para nova tentativa de conquistar o poder presidencial e, graças ao alzheimer dos eleitores e à falta de um candidato credível e capaz, conseguiu o que ambicionava. E em apenas um mandato, cometeu mais asneiras que Eanes, Soares e Sampaio juntos em trinta anos, tendo sido o vergonhoso Belémgate justa causa (ou motivo atendivel) para despedimento, ou seja, impeachment. Mas não. Com a preciosa ajuda dos media, que se comportam como se ele fosse uma vaca sagrada, lá foi seguindo em frente, apesar do lucro com as acções da SLN e do escândalo do BPN. Ou a viagem à Capadócia, paga pelos contribuintes, um sonho antigo da sua Maria que aproveitou para lá fazer umas compritas para os netos...

Tivesse sido Sócrates, as notícias e a atitude dos jornalistas teriam sido muito diferentes, mas como foi Cavaco, a sua boa imagem foi preservada e passou incólume aos olhos do cidaddão comum, que não lê jornais, colunas de opinião nem blogues e apenas "engole" o que os noticiários lhes dão de comer. As sondagens aí estão para quem as queira ver. Os números não correspondem às intenções de voto mas apenas à percentagem da população portuguesa que sofre de alzheimer. Aguda.

2 comentários:

Graza disse...

Se Cavaco fosse uma peça de louça, acho que seria um daqueles pirosos jarrões que as sogras oferecem ás noras, a emitar um Dinastia Ming, volumoso, dificil de por em qualquer canto – atrás da porta não dá por causa do splash, ao fundo da escada idem – que só dá alivio em casa, quando há mesmo um acidente e origina um suspiro com chorrilho de falsas lamentações.

Ricardo Sardo disse...

Bem visto. Mas um jarrão que muita gente acha que é valioso...