domingo, 25 de fevereiro de 2007

Velho do Restelo

Recordo-me de alguns anos atrás, quando se cortou a Praça da República (conhecida como "jogo da bola") na Ericeira ao trânsito. Quase toda a gente contestou, disse mal, criticou, os comerciantes e proprietários de cafés opuseram-se, o comércio ia falir, etc, etc.
Passados estes anos todos, o coração da Ericeira está bem vivo, o comércio não se pode queixar (até pelo contrário) e quase toda a gente diz (agora) que a Ericeira "está melhor assim".
O Governo decidiu fechar as escolas com menos de 10 alunos. Veio logo o ruído da contestação. Agora são poucos os que discordam da medida...
Decidiu também, mais recentemente, fechar algumas maternidades que não tinham as condições desejadas. Seguiu-se a voz da revolta. Com o tempo as pessoas começam a perceber que, a longo prazo, é para melhor...
Decidiu agora fechar algumas urgências sem condições adequadas (as pessoas apenas as querem abertas, não querendo saber se têm as condições exigíveis) e estão aí as manifestações. O tempo dirá quem tem razão.
Mas, no fundo de tudo, está a natureza do tuga, a nossa maneira de ser: detestamos as mudanças. Todas as mudanças, mesmo as que são para melhor. Somos adversos às alterações, socialmente conservadores. Preferimos manter tudo como está.
Não seremos todos nós um pouco responsáveis pela (não) evolução do nosso país?

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo, o que o governo tem querido fazer tem-no feito bem, especialmente neste ponto das urgências em que tem procurado ostracizar o interior, conseguindo-o plenamente!!

Ricardo Sardo disse...

Não acho que esteja a ostracizar o interior. Pelo contrário. Nas notícias apenas ouvimos falar nas urgências que fecham, mas esquecemo-nos que são muito poucas (comparadas com o total) e deve-se ao facto de que não têm condições para assegurar os cuidados médicos necessários.
E outro aspecto, este o crucial: o projecto visa sobretudo reorganizar totalmente o "mapa das urgências", ficando quase todas as povoações que se encontravam a mais de uma hora de distãncia da urgência mais próxima, mais perto e a menos tempo.
O fecho de cerca de uma dezena de urgências é apenas um de entre vários pontos deste projecto. E, como tal, temos que ver a floresta e não a árvore.

Anónimo disse...

Convém ver também os casos que têm chegado de pessoas que morrem pelo caminho durante essa suposta hora que este governo vai esticando. Alie-se a isto o novo imposto por cuidados de saúde que vem na linha de muitos outros recém inventados e podemos ver a verdadeira dimensão da floresta!! Tão grande que me parece que o ministro já anda por lá perdido...

Ricardo Sardo disse...

Caro Miguel:

Primeiro, segundo sei, ainda não morreu ninguém pelo caminho devido ao facto de ter que se deslocar a uma urgência mais distante (pelo menos até este momento desconheço qualquer sentença judicial que atribua directamente a responsabilidade a esse facto ou, pelo menos, algum estudo ou parecer nesse sentido; e os casos em que alegadamente as mortes se deveram a esse facto acabou por se concluir que não foram daí derivadas).
Viste ontem o Prós e Contras? Se não, é pena, mas podes sempre consultar os protocolos com os Municípios no Portal da Saúde (http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/ministerio/comunicacao/discursos+e+intervencoes/protocolosrequalificacao.htm) e, por exemplo, comparar com o Relatório Final da Proposta de Rede de Urgências(http://www.portaldasaude.pt/NR/rdonlyres/ED3FB0EC-45B7-4C27-AB7E-04DB36B21D5D/0/PropostaFinalComissao.pdf). Verás que as diferenças são mínimas.

Segundo, o "imposto" de que falas (suponho que te estejas a referir à nova taxa moderadora nas cirurgias) não é um imposto. Eu também tenho dúvidas, mas se os maiores fiscalistas dizem que é uma taxa e não um imposto, admito que sim, pois apesar de Advogado, não estou propriamente à vontade em Direito Fiscal...
De qualquer das formas, se fores analisar correctamente a proposta, a taxa só se aplica em casos que constituem uma minoria. Os casos mais graves (de entre um vasto rol de intervenções cirúrgicas, oncologia por exemplo) estão excluídos.

Terceiro, quanto aos impostos criados, dou o exemplo do novo imposto sobre os veículos. É verdade que é criado mais um, mas como veio substituir 4 (quatro!) não podemos dizer que foi criado um novo. Veja-se o exemplo, semelhante, do Imposto Sucessório...

Quanto ao Ministro, é verdade que falta-lhe alguma habilidade para dialogar e explicar as medidas, mas é também incontestável que tem feito um trabalho claramente positivo, como aliás já tinha feito no mandato de Guterres.

Finalmente e olhando para a floresta, finalmente algo está a ser feito. Já era tempo de aparecer alguém com coragem política.