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De acordo com o Código Civil, o casamento é um contrato entre duas pessoas de sexo diferente. Uma alteração ao articulado permitiria o casamento gay. Um assunto que divide os constitucionalistas – Jorge Miranda disse ao CM há alguns meses que “uma lei que permitisse o casamento aos homossexuais seria inconstitucional”.
A revisão do Código Civil é uma das propostas da Comissão de Projectos para as Comemorações do Centenário da República. O grupo, dirigido pelo constitucionalista Vital Moreira, sugere no relatório de Setembro de 2006, em discussão pública até 31 de Maio, que o centenário da implantação da República “deveria ser inserido no mainstream da acção política e governativa até 2010, com o aprofundamento da democracia e da cidadania, com a promoção da igualdade nos planos social, de género e étnico”. (...)
“São propostas que estão na linha da defesa das leis republicanas, no campo da igualdade, da modernidade e da laicidade”, diz António Serzedelo, presidente da Associação Vidas Alternativas. Como tema polémico, o casamento gay carece de discussão. “Estas questões devem ser discutidas e explicadas. Há uns anos, os portugueses votaram contra o aborto, agora não”.
TERESA E LENA AINDA ESPERAM
Em Fevereiro de 2006, Teresa Pires e Helena Paixão quiseram casar-se, mas a 7.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa recusou o pedido, por entender que não devia avaliar a eventual inconstitucionalidade da lei.
O advogado do casal, Luís Grave Rodrigues, recorreu e o processo está entre a Relação e o Supremo Tribunal de Justiça. “Estão a discutir se há motivos para subir ao Supremo”, diz o causídico, admitindo recorrer para o Tribunal Constitucional se não houver evolução.
O advogado diz que o artigo do Código Civil relativo ao casamento “é inconstitucional” e explica que “não há diferença jurídica entre um contrato de casamento e um contrato de arrendamento ou de compra e venda de uma casa”, apelando a uma “solução legislativa” para corrigir o artigo do Código Civil.
IGUALDADE...
O artigo 13.º da Constituição diz que “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça [...], condição social ou orientação sexual”....
E CASAMENTO
Segundo o artigo 1577 do Código Civil (Noção de Casamento), o casamento “é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida”."
(Correio da Manhã)
1 comentário:
Sobre a notícia, Vital Moreira (visado na mesma) no Causa Nossa:
"Ao noticiar, na edição de ontem, o relatório da Comissão de Projectos das Comemorações do Centenário da República, o Diário de Notícias não encontrou melhor tema para destacar em título ("Casamentos 'gay' para celebrar a República"), de entre dezenas de propostas e ideias, uma que ele mesmo inventou a partir de uma frase do relatório sugerindo a revisão do Código Civil "em matéria de relações familiares, tendo em conta as novas realidades sociais".
Entre outras coisas que carecem de modernização contam-se por exemplo a inserção no Código Civil do reconhecimento das uniões de facto, já reconhecidas em lei avulsa, a protecção específica das famílias monoparentais, cada vez mais numerosas, a adopção, a regulação do poder paternal, etc..
Pois o DN não viu nenhuma outra forma de "traduzir" aquela ideia se não como uma proposta de «novos direitos para os homossexuais, nomeadamente direito de se casarem pelo civil, e mesmo, por extensão, de adoptarem crianças». E toca de o puxar para título!.
É jornalismo no melhor da leviandade populista, de exploração do preconceito fácil. Por este andar o "24 horas" que se cuide. O DN resolveu disputar-lhe o público e os métodos."
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