segunda-feira, 14 de maio de 2007

Divórcio em discussão no Parlamento

"O Bloco de Esquerda vai estar isolado, quarta-feira, na defesa do direito de um dos cônjuges a pedir o divórcio pela simples razão de não querer mais estar casado.
A maioria na Assembleia da República rejeita de forma liminar o projecto de lei do BE que estabelece que o cônjuge que não deseje manter-se casado pode, a qualquer momento, pedir o divórcio sem ter que provar a culpa do outro, nem ter que chegar a acordo.
O tema pode dar que falar nas reuniões de grupos parlamentares na próxima semana. "Não é tempo para a Assembleia dar esse salto tão grande", sustentou ao JN o presidente da comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Osvaldo Castro. "É complicado prever, juridicamente, o direito de um cônjuge a, de forma abrupta, dizer que vai embora porque se desapaixonou", acrescenta o deputado socialista. "Não será bem compreendido, em especial quando há filhos".
O BE sustenta que a "conotação de dever" associada ao casamento está a dar lugar "à regra do bem-estar pessoal e ao desejo de persistência do amor. Sem ele, ou perante a sua erosão, há motivo suficiente para quebrar o laço". Helena Pinto sustenta que "quando o amor acaba não é preciso que exista culpa". E é a "carga dramática do divórcio litigioso" que o BE pretende suprimir. O projecto prevê a realização de duas conferências de "conciliação" para que "não restem dúvidas de que não estamos a propor o divórcio na hora", sustenta a deputada do BE. (...)
Strecht Ribeiro admite que se possa prosseguir no caminho da redução de prazos do divórcio quando se trata de causas objectivas como a separação de facto, o desaparecimento sem notícias ou o abandono, matéria que já foi alvo de uma iniciativa do próprio deputado e de Alberto Martins na anterior maioria socialista.
António Montalvão Machado, da direcção parlamentar do PSD, sustenta, por seu lado, que "o casamento não é um contrato qualquer. Pode ser terminado por via litigiosa, mas não por via unilateral". Além disso, acrescentou, "permite uma enorme injustiça. Que defesa, que protecção merece o outro cônjuge?", questionou.
Abel Baptista, do CDS-PP, argumenta na mesma linha "O casamento é um contrato muito valorizado. Não pode ser anulado apenas por vontade de uma das partes". (...)
Rogério Alves, bastonário da Ordem dos Advogados, defendeu, em declarações feitas ao JN a título pessoal, que "a via para que aponta o projecto merece, pelo menos, ser estudada". O advogado, disse entender que "o divórcio não pode ser excessivamente facilitado sob pena de se tornar um acto precipitado e leviano", mas sustenta que "é demasiado penoso para um cônjuge que não queira estar casado ter que assacar ao outro uma culpa para se divorciar"."

(Jornal de Notícias)

O casamento é, do ponto de vista jurídico, um tema melindroso. Estamos a falar de pessoas e dos seus sentimentos.
O casamento é um contrato, mas possui um requisito, que mais nenhum contrato tem: os sentimentos entre os contraentes, que serve de base à razão de ser desse mesmo contrato. Se um dos contraentes deixar de ter esses sentimentos, essenciais para a celebração (e manutenção, na minha opinião) do contrato, fará sentido manter o contrato?
Claro que se um dos cõnjuges pretender, efectivamente, terminar com o contrato, poderá, por exemplo, abandonar o domicílio do casal, dando, no entanto, um fundamento para o outro cônjuge pedir o divórcio com base na violação dos deveres conjugais. Mas na prática, consegue o que pretende: a separação ou o divórcio.
Concordo com o meu colega, Dr. Rogério Alves, de que o tema deve ser discutido, por exemplo, na especialidade, em sede de Comissão.

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