Como o tempo tem sido escasso, não tenho conseguido comentar alguns temas dos últimos dias. Porém, não posso deixar de escrever alguns apontamentos:
Escutas na Comissão de Inquérito
Como explicam os Juízes Eduardo Maia Costa (aqui e aqui) e Pedro Soares de Albergaria e até Miguel Sousa Tavares, as escutas não podem ser utilizadas fora do processo judicial para o qual foram realizadas. Isto significa, portanto, que não podem ser utilizadas nem por outras entidades nem noutras diligências que não as judiciais. O Parlamento não pode, pois, utilizá-las seja para que efeito for.
Não se compreende, aliás, como é que o magistrado de Aveiro enviou as escutas, sabendo (e se não sabe, pior ainda, pois exige-se que saiba isto) que os deputados não poderão consultá-las nem utilizá-las. É que, ao enviá-las para uma entidade não judicial poderá estar, inclusive, a violar o segredo de justiça, pois fora do processo (Face Oculta) ninguém poderá ter acesso a elas.
PEC e Medidas de austeridade
Não sei se as medidas aprovadas pelo Governo e com o acordo do PSD são inevitáveis, mas não vejo que possam haver alternativas melhores. Percebe-se que o governo quis evitar ao máximo tomar as medidas mais graves, mas acabou por ter que as tomas mesmo. Mesmo assim, não compreendo como é que não se cortam em algumas despesas, como, por exemplo, no número de viaturas do Presidente da AR ou no número de motoristas de Jorge Lacão. Ou nas marcas. Em França, alguns Ministros passaram a andar em automóveis económicos, em vez das usuais "bombas". Cá, não prescindem dos "obrigatórios" BMW's. Ou porque não cortam nas reformas douradas de alguns ex-políticos. É que, supostamente, uma pensão de reforma é uma compensação para quem trabalhou durante a vida activa e atinge a idade em que não mais consegue trabalhar. Mas o que vemos são ex-políticos e ex-governantes a auferirem pensões por meia dúzia de anos de "trabalho", enquanto trabalham e auferem ordenados em empresas ou noutras actividades. Quanto se pouparia aqui?
Jornalismo e acção directa
Se o caso chegar a julgamento, até considero possível o deputado Ricardo Rodrigues ser absolvido e conseguir provar que se verificaram os requisitos para a suposta acção directa. Mas, independentemente de ter ou não razão jurídica, o gesto não lhe fica bem, por muita razão que tenha (e teve). É sempre difícil dizer o que faríamos se estivéssemos no lugar dele, pois não sabemos como reagiríamos a quente. Mas levantar-se de imediato sem dizer nada teria sido uma bofetada de luva branca e até ganharia a opinião pública.
Mas não posso deixar de apontar o dedo à atitude canalha dos jornalistas em causa. Se o comportamento do deputado foi de baixo nível, o dos jornalistas não foi melhor. Pegar num boato e colocar uma questão com base apenas nesse mesmo boato e em claro tom provoatório (o jornalista praticamente sorria quando colocou a questão) é violar as regras éticas do jornalismo, que, em primeiro lugar, deve lidar com factos e não com suposições ou boatos ou "diz que disse" ou "ouvi dizer". Aposto que, se tivesse sido ao contrário, aqueles dois jornalistas teriam reagido igualmente mal e até se mostrariam ofendidos e indignados. Mas, infelizmente, o jornalismo português vive a fase do "vale tudo". Não haverá ninguém entre os jornalistas que não consiga entender que as poucas vendas de jornais devem-se, acima de tudo, à falta de qualidade, de rigor e de isenção? A Inventona de Belém, onde um jornalista combinou a invenção de uma notícia com um assessor do Presidente, não serviu de lição para os jornalistas deste país? Onde é que isto irá parar?
Palermo cada vez mais perto
Numa entrevista ao Sol, Hermínio Loureiro diz que se demitiu da Liga de Clubes, porque o ameaçaram de que, se não saísse Ricardo Costa, lhe fariam (a ele, Hermínio) "a vida negra". E que a ameaça foi feita por um dirigente do Porto. E, confessa ainda, que muita coisa não pode contar, pois é "impublicável". Mas todos, com base no historial e no ADN do clube, que tipo de coisas são "impublicáveis"...
Claro que isto não irá dar em nada, como já aqui demonstrei. A Justiça, em Portugal, só funciona para alguns. As cunhas, os amigos, os favores chegam a todo o lado e, por aquelas bandas, já se viu que chega bem longe. Por isso, dali não espero nada. O MP bem pode ficar impávido e sereno. Aliás, não tem feito outra coisa em tudo o resto...
Rock in Rio
Estive na Bela Vista no primeiro dia da edição deste ano do Rock in Rio. Ivete Sangalo, tal como esperado, encantou e deixou toda a gente a dançar. John Mayer entreteu e Shakira saltou e correu por todo o palco. Mariza não ouvi, pois entrei já por volta das 20h. Mas há uma chamada de atenção que tenho de fazer. Felizmente nao sou surdo e, como tal, não preciso de ouvir a música em altos berros. Com a Ivete e o John a música estava no volume certo, mas com o colombiana estava exageradamente alto. Quase não se percebia nada, sobretudo quando tocava a guitarra eléctrica. Em vez de som, quase só se ouvia ruído. Foi pena.
Fui na sexta porque me tinha oferecido o bilhete, senão não sei se teria ido este ano. Talvez tivesse ido no sábado, sobretudo por causa de Elton John. Não sou propriamente fan de Trovante e Leonna Lewis (vi a gravação na tv) desiludiu-me. Tive um casamento e, como tal, tive que optar por ir na sexta à cidade do Rock, dia em que estiveram 81 mil pessoas. E recordo que, este ano, subiram os preços, para 58 euros. Afinal ainda há dinheiro neste país.
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