quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A arte da ganância

Há algum tempo deparei-me com uma enorme 'coincidência': os super e hipermercados de um certo grupo apresentam, não raras vezes, diferenças entre o preço afixado nas prateleiras e o preço registado na caixa. A coincidência é que só notei estas diferenças nos estabelecimentos deste grupo. Mas será apenas coincidência? Admito que sim. Mas não ficamos por aqui... A diferença entre preços é sempre em prejuízo do cliente. O preço registado na caixa foi, das vezes em que detectei esta falha, sempre superior ao afixado nas prateleiras. Será, também isto, uma mera coincidência? Não acredito, pois é sabido que grande parte dos clientes escolhe os produtos pelo preço e são, desta forma, enganados, pois não se apercebem desta diferença, cabando por pagar mais do que o pretendido e esperado.
Só num super deste grupo, ao pé do meu escritório, deparei-me com esta situação por três vezes. Na terceira, apresentei reclamação escrita e nunca mais lá fui. Também já me deparei num dos hiper's deste grupo e deixei de ir aos estabelecimentos deste determindado grupo. E muita gente queixa-se do mesmo, tendo também já detectado estas diferenças. Nunca me deparei com estas diferenças nos restantes (nem ouvi relatos de outras pessoas), mas tal não significa que não aconteça. E já nem vou falar noutras maroscas, como colocar um produto em cima de um preço que, se formos a ver bem, diz respeito a um produto diferente, sendo que o preço real é superior ao afixado. Ou noutras que um amigo meu que já trabalhou numa superfície comercial destas me contou há tempos...

Outra estória prende-se com os chamados home services (tv + telefone + internet). Cancelei o serviço que tinha por existir, no mercado, um mais adequado aos meus gastos e tipo de consumo. Cancelei nos termos legais, mas a empresa em causa fez-me o que já tinha feito com um familiar e vários amigos meus: como que recusaram o cancelamento e enviaram factura respeitante a um mês em que o serviço já não estava activo. Enviei uma carta a explicar a situação e a avisar que a sua conduta era ilegal. Voltaram a insistir, ligando-me a dizer que tinha uma dívida. Expliquei, serenamente, que nada devia e que a sua postura era ilegal. À cautela, enviei nova carta. Acabaram por enviar sms a dar-me razão. Até que enviaram nova factura, respeitante ao mês seguinte e onde constava o valor acumulado dos dois meses supostamente em falta. Hoje liguei, já fulo, e perguntei se existia, eventualmente, alguma descoordenação entre departamentos, entre funcionários ou se, pura e simplesmente, agiam conscientemente e tentavam sacar algum, como tentaram fazer a várias pessoas. A senhora que me atendeu (que não tem culpa nenhuma no cartório) claro que não me respondeu, apesar de me ter confirmado, após verificar a situação, que, de facto, o serviço tinha sido cancelado e eu nada lhes devia. Disse que, apesar de tudo, apresentaria queixa do seu comportamento. Se se trata de descoordenação, algo terão que mudar, pois uma das maiores empresas nacionais não pode funcionar com esta incompetência. Se se trata de um método de fazer mais dinheiro, de forma consciente e intencional, então estamos perante um crime que terá de ser punido. Seja uma ou outra situação, algo terá que mudar.

Estes dois exemplos servem apenas para demonstrar como funcionam algumas das maiores empresas nacionais, algumas das que mais contribuem (ou não) para a economia nacional e para o estado do país. Estas são as mesmas empresas que não conseguem competir fora de portas, como facilmente se percebe, dada a falta de aptência para o mercado global, que se baseia na competência, no rigor e na exigência. Dois exemplos que explicam porque não saímos da cepa torta, por muitos políticos nos venham dizer que existem soluções na próxima esquina, mas que em nada mexem com estes comportamentos. A primeira queixa, relativa ao supermercado, foi apresentada há praticamente um ano e ainda não recebi qualquer resposta da ASAE. Se as autoridades actuassem com celeridade e de forma eficaz (com coimas que punam as empresas violadoras e que as façam ponderar se vale a pena e se compensa financeiramente insistir nestas ilegalidades), então, aí sim, estaríamos mais perto de um país desenvolvido. Mas enquanto isto não for mudado e a Justiça não actuar da forma como deveria.. continuaremos com este país da treta.

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