quarta-feira, 4 de maio de 2011

PEC IV revisto

Estava ansioso por conhecer as medidas estabalecidas no acordo entre governo e FMI, para saber, em concreto, como me irão afectar. Mas, ao ouvir Sócrates, pensei por momentos que estavam a transmitir um comício do PS, em plena campanha eleitoral. Mas afinal tratava-se de uma declaração ao País, em que Sócrates, supostamente, anunciava as medidas. Mas fiquei sem saber, em concreto, quais são as tais medidas. Apenas ouvi 'não vamos fazer assim' e 'não vamos fazer assado'. Só depois, na imprensa online e nos blogues, fiquei a saber mais. As medidas são, no essencial, quase as mesmas já aplicadas pelo governo (como os cortes nos salários públicos acima dos 1500 euros) ou previstas no PEC IV, chumbado no Parlamento. Ou seja, tanta coisa (chumbo o PEC, demissão do governo, vinda do FMI) para nada. O PEC IV lá irá ser aplicado...


Mas, apesar do ar ausente de Teixeira dos Santos e do comícío... perdão... da declaração ao País de Sócrates, este acordo poderá ter sido, muito provavelmente, a certidão de óbito de Passos Coelho, senão vejamos.

Chumbou o PEC IV, alegando ser demasiado gravoso para os portugueses, mas, no debate que antecedeu o seu chumbo, Ferreira Leite, em nome do PSD, dizia que a proposta de PEC era boa mas deveria ser aplicado por outros. Ora aí está, defendida e aplicada por outros (FMI).

Dias depois, Passos Coelho, no Wall Street Journal, escrevia que, afinal de contas, o PEC deveria ter ido ainda mais longe, prevendo ainda mais cortes do que os previstos do documento apresentado pelo governo. Afinal, não é necessário, como ontem se viu.

Depois foi a tanga da verdade dos números, agravada pelas não sei quantas cartas de Catroga a pedir respostas, quase todas já conhecidas e acessíveis na net. Que isto ainda estava pior do que o governo dizia e que 80 milhões não chegavam. Alguns jornais, ao abrigo de enormes fretes, falavam em 100 ou mais milhões, outros garantiam cortes aqui e acolá (como este), que o FMI ficaria por terras lusas por dez anos, ou mais... Afinal, 78 milhões de euros chegam e três anos (dois e meio, já que é até 2013) são suficientes para colocar isto na ordem. Afinal, os números do governo eram verdadeiros...

E ainda temos as medidas em concreto. Ouvimos, nas últimas semanas, dirigentes ou gente ligada ao PSD defender medidas mais gravosas, como cortes nos salários, redução do salário mínimo, fim dos apoios sociais (subsídio de desemprego, por exemplo) em troca de um cartão de débito duvidoso. Como irão agora, conhecido o acordo, continuar a defender tais ideias? Como irá o PSD justificar as suas propostas (privatização de sectores vitais do Estado e tradicionalmente públicos, como Saúde, Educação e Segurança Social) sem a desculpa de ser necessário e ser imposto pelas instâncias externas, como o FMI? Como irá o PSD suportar o seu posicionamento liberal neste mês de campanha, nomeadamente nos debates televisivos, com as sondagens a pressionar Passos Coelho, que está entre a espada e a parede (a tal ameaça de Marco António, "eleições no país ou no partido"...)? Desconfio que o novo hino do PSD acaba por fazer sentido...


Aquando do chumbo do PEC IV, que desencadeou a queda do governo e a vinda do FMI, o CDS-PP foi o único partido a apresentar um PEC alternativo ao do governo. Bom ou mau, havia um alternativo. Foi o único a ter uma atitude séria, com os resultados (sondagens) a confirmarem isso mesmo. Os restantes partidos limitaram-se a ser do contra, a botar abaixo, a dizer mal sem apresentar soluções. O PSD, à cabeça, não podia ter sido mais irresponsável. Apesar de tudo (e com 'tudo' refiro-me a Sócrates e ao seu desgoverno), tenho que dar, nesta matéria, inteira razão ao governo. E ontem confirmou-se isso mesmo. O acordo é, basicamente, o PEC IV revisto em alguns pontos e com o aval de FMI, União Europeia e Banco Central Europeu (estes dois já tinham aprovado o PEC IV). Afinal, Teixeira dos Santos é um Ministro das Finanças competente, que sobrevive, desta forma, aos ataques pessoais (quase toda a gente questionou a sua competência e seriedade) e aos números. E o PSD, que nem sequer foi tido ou achado nesta discussão com a troika, sai mal na figura. E desconfio que as próximas sondagens confirmarão esta opinião. Veremos.


Andámos quase dois meses nisto: chumbo do PEC IV, demissão do governo, eleições legislativas antecipadas (com as inerentes consequências negativas), vinda do FMI, degradação da imagem de Portugal nos estrangeiro (com as inerentes consequências negativas), tudo isto quase para nada. E dia 5 de Junho veremos quem ficará a perder com tudo isto...

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