terça-feira, 26 de julho de 2011

Coerência

Leio o Pedro Correia desde que entrei na blogosfera. Desde o primeiro momento que ganhei respeito e apreço pela sua escrita. Nem sempre concordei com o que escrevia, mas sempre admirei a forma como o fazia. E sempre tive enorme prazer em trocar ideias e argumentos.

Na semana passada calhou ter comprado a Visão. Fiquei a saber que o Pedro tinha ido para o governo, como assessor. E recordei-me, de imediato, deste texto que escreveu a propósito das últimas eleições legislativas. Não conheço o Pedro senão dos blogues onde escreve, mas retirei impressões positivas quanto aos seus valores, nomeadamente quanto à coerência que sempre demonstrou. Pois esta decisão vai contra esses valores.

Nesse texto, o Pedro perguntava (e perguntava-se a si próprio), entre outras questões, se é indiferente ser governado por alguém que falta reiteradamente à verdade. A resposta é, obviamente, negativa. Ora, se não podíamos confiar em Sócrates, desde logo pela quebra das promessas feitas, não podemos, da mesma forma, confiar em Passos Coelho. Se piorámos com Sócrates, também estamos a piorar com Passos Coelho. Se Portugal perdeu competitividade, prestígio e liberdade com Sócrates, também o está a perder com PPC. Ou seja, tal como tenho aqui escrito, o actual governo veio na senda do anterior, não passando de uma cópia mais liberal do anterior. Se o Pedro considerava que estes factores deveriam servir para não votar em Sócrates, então também não servirão para votar em Passos Coelho. Se não serviam para confiar e acreditar em Sócrates, também não servem para confiar e acreditar em PPC. Todavia, o Pedro aceitou integrar o Executivo liderado por alguém que também falta à verdade, também comete erros que pioram a qualidade de vida dos portugueses (a maioria - os do costume - mas não os "amigos"), também desprestigia o país e coloca em causa a nossa imagem. Respeito a decisão do Pedro e até aceito que possa ter argumentos a seu favor (certamente que os terá), mas não consigo compreender como é que o possa ter feito sem compremeter a imagem de coerência (e até de uma certa isenção) que tenho tido dele.

O Pedro entenderá que tomou a decisão certa, mas as perguntas que colocou há menos de dois meses terão, agora e num novo contexto (político), diferentes respostas. O Pedro, que tanto criticou (e com inteira razão, como lhe transmiti nas diversas ocasiões) os double standards dos outros, acaba ele por cair numa enorme contradição. Pode ser que venha a elucidar-me e a convencer-me do contrário, já que nem no Delito nem no Albergue escreveu sobre o assunto. Mas duvido seriamente que me convença de que a sua decisão é coerente com o que tem escrito nesta matéria.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu caro amigo,

O que mudou foi a situação. A essência, essa sempre lá esteve muito bem mascarada pela providente independência. Compreendo a sua desilusão.