Um dos direitos do Homem é a igualdade, nomeadamente entre o homem e a mulher. Mas há quem ainda pense de forma diferente. Parece que o novo Cardeal português defende que deve ser a mulher a ficar em casa a tomar conta dos filhos e o homem a ir trabalhar, para sustentar a família. Este era o pensamento dominante até meados do Séc. XX, mas já não é o actual. Não me espanta que os católicos mais ortodoxos e conservadores ainda defendam esta mentalidade, esta forma de ver a vida, mas não posso concordar com ela. E pelas mesmas razões de Ferreira Fernandes. Tenho uma filha com quase um ano e não me imagino sem o direito de a ver crescer nos primeiros meses de vida e fazer parte da sua aprendizagem inicial. Compreendo que a Igreja Católica esteja preocupada com a família e com a baixa natalidade no país e, como eu próprio escrevi há bem pouco tempo (aqui ou aqui), este governo está a fazer tudo ao contrário do que qualquer manual de economia diz, destruindo o futuro do país. Concordo que deveriam ser dados mais direitos aos pais e incentivos para a constituição de família (recordo-me que Ferreira Leite, no governo de Durão Barroso, fez os casais pagar mais impostos, fazendo com que muitos se tivessem divorciado para pagar menos, apesar de continuarem "casados") mas para ambos, para a mulher e para o homem, e nao apenas para a primeira. Aliás, qualquer pediatra poderá dizer ao Sr. Cardeal que as crianças que cresçam sem o acompanhamento do pai terão menos hipóteses de sucesso das que terão o pai ao seu lado, desde logo nos primeiros meses de vida. O Sr. Cardeal, se tiver internet, pode perder alguns minutos aqui, ou, caso tenha mais tempo e perceba inglês, pode sempre ler esta obra de Michael Lamb, chefe do departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento da Universidade de Cambridge, sobre o papel do pai no desenvolvimento da criança. Tal como Ferreira Fernandes, não admito que alguém que não seja pai me venha dar lições de parentalidade, sobretudo se pensa como se pensava em meados do Séc. XX, em que competia apenas à mulher cuidar das crianças, mas também se pensava que esta não tinha direito a votar e os negros eram uma raça inferior. E outros pensamentos do género...
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