sexta-feira, 4 de maio de 2012

Balança inclinada (2)

Imaginemos um empregador que não gosta de uma determinada funcionária. Sei lá, por causa de ter muitos filhos e estar sempre de licença. Quer "despachá-la", mas não sabe como. A solução é simples. Primeiro, vota num partido neoliberal, na esperança que vença as eleições e forme governo. Ao mesmo tempo, faz donativos - e quanto mais generosos forem melhor - para esse partido. Em conversas, durante convívios, encontros, campanhas, etc, dar a entender que pretende uma legislação mais "flexível", entenda-se amiga. Quanto este partido vencer e formar governo, estabelece novos contactos, apenas para recordar os bons momentos antes das eleições e lembrar os donativos - e quanto mais generosos foram melhor é a memória dos recém eleitos. Este aprova uma legislação "mais flexível". Já pode, agora, "despachar" a tal funcionária que, entretanto, teve mais um filho e está prestes a terminar mais um período de licença de maternidade. Primeiro, trata de organizar uma reestruturação da empresa, modificando algns postos de trabalho e extinguindo outros. O posto da tal funcionária é um dos que é extinto. Com a legislação anterior, estava obrigado a colocá-la num outro, compatível com as suas funções. O que sucedaria, não fossem os donativos generosos e a alteração legislativa. Agora, já não está obrigado a recolocá-la. Pode, pura e simplesmente, "despachá-la", como sempre quis. Irá contratar um jovem licenciado, com um vencimento bem inferior e com um contrato mais favorável para si e não quer saber se a tal funcionária tem filhos e precisa de os sustentar. E também não quer saber se o jovem licenciado que, na prática, a irá substituir será melhor ou pior trabalhador. Estava era farto daquela chata, que só lhe criava transtornos. Ela até pode ir para Tribunal, impugnar o despedimento e até vencer. Mas não há problema. Outra das alterações legislativas do partido que financiou há uns meses atrás foi acabar com as indemnizações e penalizações. Pode despedir à vontade, pois não há qualquer sanção para as suas práticas laborais, mesmo que imorais e ilegais. O crime compensa, mas ele não quer saber. Pagou para isso, fez um investimento e agora exige o retorno. A empresa, entretanto, entra em dificuldades financeiras, por evidente má gestão. Mas ele está convencido que está no bom caminho para recuperar. A culpa era do criminoso do Socratino, que deu cabo do país e da economia e não percebe como ainda não foi preso.(ao contrário do actual governo que está a fazer tudo bem e por isso é que lhe doou dinheiro).
Qualquer coincidência entre esta história ficcional e a realidade é pura coincidência. Garanto.

3 comentários:

S. Bagonha disse...

É, ele há coincidências...

Graza disse...

Pois é Ricardo, peço desculpa mas não ficcionou. Mas fez bem em declará-lo não vá o diabo transformá-lo em Rangel.

Ricardo Sardo disse...

Um caso exactamente igual a este não conheço. Ainda. Como escrevi, a nova lei ainda está para entrar em vigor. Mas algumas das situações que mencionei são bem reais. Todas juntas, poderão ser, em breve...