sexta-feira, 20 de abril de 2007

Violação do Direito Internacional

"A prisão era um lugar tão escuro que Binyam Mohammed nem conseguia ver as suas mãos. Na parede da cela, um cabide, onde era pendurado depois de ser agredido. No tecto havia altifalantes. E através deles saía música, alta, canções de Eminem repetidas 24 horas por dia.
"Ouvia aquilo sem parar, uma e outra vez, memorizei a música, toda (...) era verdadeiramente assustador. Houve muitas pessoas que ficaram malucas. Eu conseguia ouvir pessoas a baterem com a cabeça nas paredes e nas portas e aos gritos."
Este é o relato de um dos suspeitos de terrorismo que a CIA deteve e torturou no âmbito do programa de "rendições extraordinárias" e que surgem em A Verdadeira História dos Voos da CIA: Os Táxis da Tortura, livro dos autores norte-americanos Trevor Plagen e A. C. Thompson, hoje lançado em Portugal.
A prisão de que fala Mohammed fica no Afeganistão, perto de Cabul, próximo de uma outra que tinha o nome de código Mina de Sal. Actualmente em Guantánamo, sendo um dos 400 prisioneiros, chegou ao Afeganistão num dos voos da CIA. Estes vieram à luz do dia depois do cruzamento de dados que foram sendo recolhidos por ONG e amantes da fotografia aeronáutica, desde o 11 de Setembro de 2001, o acontecimento que levou George W. Bush a reforçar os poderes da agência.
As "rendições extraordinárias" consistiam em raptar suspeitos de terrorismo e levá-los, depois, para prisões onde eram torturados para revelarem ligações à Al-Qaeda, em violação do Direito Internacional. O transporte era feito em aviões civis, pequenos jactos, que pertenciam a companhias fantasmas da CIA ou a outras empresas que os alugavam à agência, como a Richmor Aviation (dona do avião da equipa de basebol Boston Red Sox). Mais tarde, em 2005, descobriu-se que o programa da CIA também incluía prisões em países europeus como a Polónia e a Roménia. Quando começaram a surgir inquéritos na Europa, essas prisões, onde os americanos até davam chocolates Kit Kat aos detidos, fecharam e os prisioneiros foram transferidos. Ninguém sabe bem para onde."

(Diário de Notícias)

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