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"Ouvia aquilo sem parar, uma e outra vez, memorizei a música, toda (...) era verdadeiramente assustador. Houve muitas pessoas que ficaram malucas. Eu conseguia ouvir pessoas a baterem com a cabeça nas paredes e nas portas e aos gritos."
Este é o relato de um dos suspeitos de terrorismo que a CIA deteve e torturou no âmbito do programa de "rendições extraordinárias" e que surgem em A Verdadeira História dos Voos da CIA: Os Táxis da Tortura, livro dos autores norte-americanos Trevor Plagen e A. C. Thompson, hoje lançado em Portugal.
A prisão de que fala Mohammed fica no Afeganistão, perto de Cabul, próximo de uma outra que tinha o nome de código Mina de Sal. Actualmente em Guantánamo, sendo um dos 400 prisioneiros, chegou ao Afeganistão num dos voos da CIA. Estes vieram à luz do dia depois do cruzamento de dados que foram sendo recolhidos por ONG e amantes da fotografia aeronáutica, desde o 11 de Setembro de 2001, o acontecimento que levou George W. Bush a reforçar os poderes da agência.
As "rendições extraordinárias" consistiam em raptar suspeitos de terrorismo e levá-los, depois, para prisões onde eram torturados para revelarem ligações à Al-Qaeda, em violação do Direito Internacional. O transporte era feito em aviões civis, pequenos jactos, que pertenciam a companhias fantasmas da CIA ou a outras empresas que os alugavam à agência, como a Richmor Aviation (dona do avião da equipa de basebol Boston Red Sox). Mais tarde, em 2005, descobriu-se que o programa da CIA também incluía prisões em países europeus como a Polónia e a Roménia. Quando começaram a surgir inquéritos na Europa, essas prisões, onde os americanos até davam chocolates Kit Kat aos detidos, fecharam e os prisioneiros foram transferidos. Ninguém sabe bem para onde."
(Diário de Notícias)
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