terça-feira, 11 de outubro de 2011

Em direcção ao abismo, marchar, marchar!

Costumo almoçar num pequeno restaurante ao pé do meu escritório. A dona é uma angolana extremamente simpática e com um dom para a cozinha. É ela que confecciona os pratos do dia e o difícil é escolher o que comer, pois tudo é bom. Com sobremesa (fruta ou um excelente doce caseiro) e água tínhamos, até Setembro, direito a um almoço por 5 euros. Sim, cinco euros, no centro de Lisboa. Com as férias e o esbulho do governo, menos gente passou a aparecer para almoçar. A moda de levar almoço de casa alastrou-se e a restauração ressentiu-se dos apertos de cinto. Em Setembro, vendo que tinha perdido clientes, a Dona Elisabete, a "Tia", decidiu baixar o menu para 4,5 euros, tentando cativar mais clientes. Voltou a ter mais clientes, mas as receitas são inferiores. E a situação financeira do seu restaurante está longe de ser tranquila. Agora o governo prepara-se para aumentar o IVA da restauração de 13% para 23%. Não sei como reagirá a "Tia", se volta ao preço de 5 euros para compensar o aumento ou se mantém o preço, assumindo a despesa. É que, neste caso, duvido que consiga resistir. No outro, é quase certo que voltará a perder clientes e receitas. Ou seja, ficará sempre a perder, arriscando uma situação de total insustentabilidade e poderá ter que fechar as portas. Mais gente para o desemprego e menos uma pessoa empreendedora a acreditar na economia portuguesa. E dou este exemplo, como certamente muitas pessoas poderão dar outros, para mostrar, tal como já aqui ou aqui escrevi, que a política económico-financeira deste governo é desastrosa. Suicida até. Estamos à beira do abismo e continuamos a seguir em frente, convencidos que o caminho é este. Esta política não resultou na Grécia, não está a resultar em Portugal e continuamos a ter esperança que resulte, mais cedo ou mais tarde. A isto chama-se cegueira, ou, na melhor das hipóteses, incompetência. Sim, porque considero que um incompetente é menos mau que um cego, pois pode perceber e corrigir os seus erros, enquanto o segundo insiste no mesmo erro. Sem consumo, o motor da economia não funciona e o que este governo, que supostamente tinha tudo estudado, ponderado e avaliado, está a fazer é desligar, de vez, o motor, matando a economia e deixando milhares de famílias na miséria e o país na bancarrota e na linha de países como o Bangladesh. Claro que há que escape. Os amigos estão a encher os bolsos, como se tem percebido e exemplos não faltam. Mas a larga maioria da população está e irá sofrer ainda mais com esta gente, que, dia após dia, tem mostrado que Teixeira dos Santos era, apesar de tudo, um Ministro razoável. Se não tivesse tido o azar de ter tido Sócrates como patrão, já teríamos todos saudades suas. Mas desconfio que, daqui a algum tempo, mesmo os mais fanáticos anti-Sócrates reconhecerão que o seu Ministro das Finanças deixava o Ministro Gaspar a léguas em termos de competência e bom senso. Quando estivermos na miséria, então aí estou convencido que Teixeira dos Santos será lembrado. Pela positiva. Mas já estaremos na miséria. E a lembrança ou a saudade não pagarão dívidas nem darão de comer para a boca. É pena.

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